Conta o DN que desde Janeiro Giampolo Giuliani deixava avisos. Primeiro pôs um vídeo no YouTube. O técnico do Instituto Italiano de Geofísica andou depois numa carrinha, pelas ruas de Áquila, a gritar: "Fujam da cidade!" A polícia suspeitava de um "cientista louco" e acusou-o de estar a espalhar o pânico. Mas, ontem a terra tremeu, para lhe dar razão.
Eram 03.32, quando um sismo de intensidade considerável abalou o centro da península da Itália e fez 150 mortos e outros 100 desaparecidos. O terramoto, de 5.8 graus na escala de Richter, teve o epicentro a dez quilómetros da cidade de Áquila, a capital da província montanhosa de Abruzzo. A cidade medieval, que acolhe milhares de universitários, foi brutalmente devastada.
Mais de cinco mil socorristas passaram o dia de ontem num contra-relógio a escavar à mão em busca de sobreviventes entre os escombros. Na vila de São Gregorio, uma das aldeias em torno de Áquila, uma menina de dois anos foi encontrada viva debaixo do cadáver da mãe que a cobriu para a salvar.
Na aldeia de Onna, 12 pessoas foram retiradas sem vida dos escombros e outras continuarão soterradas. Os seus corpos foram deitados numa morgue improvisada a céu aberto durante horas, enquanto esperavam pelos cangalheiros e os caixões. O padre local, Mauro Orru, contou ao jornal britânico The Telegraph: "Os céus ruíram. Parecia o fim do mundo. Corri para a rua em pijama. Tudo na casa estava a cair - livros, talheres estava tudo no chão e a mobília mexia-se."
De malas na mão, cobertores sobre os ombros, ao longo de todo o dia, milhares de pessoas caminharam para fora das muralhas de Áquila com receio que as réplicas fizessem cair o que ficou de pé. Nos arredores foram erguidas tendas para acolher os 50 mil desalojados.
O primeiro-ministro italiano cancelou uma viagem a Moscovo e deslocou-se para o cenário da tragédia depois de declarar o estado de emergência. Silvio Berlusconi viu "do ar a devastação e o esforço dos voluntários" e prometeu: "Ninguém será deixado sozinho."
Os hospitais da região encheram com os mais de 1500 feridos do sismo, entre os quais se contou uma estudante portuguesa.
O abalo foi sentido em Roma, a cerca de cem quilómetros do epicentro, e apesar de não ter provocado grandes danos espalhou o medo na capital. Dania Martins, estudante portuguesa na cidade, contou ao DN que acordou com o barulho das loiças e viu os vizinhos fugirem aterrorizados para a rua.
As autoridades enfrentam agora a fúria da população por terem silenciado Giuliani e ignorado os seus avisos. Há meses que esta região do centro de Itália vinha sofrendo pequenos abalos e o cientista argumentava que um grande sismo estava iminente devido à concentração exagerada de radão (um gás) na área de actividade sísmica.
in "mansidão"