terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Moçambique (por: Pe. José António)

A minha aventura em Moçambique

O sonho concretizou-se! Depois de alguma insistência com os nossos bispos, e de aprender que a obediência é o único caminho para construir comunhão em Igreja, parti para Moçambique por mês e meio, confiando aos cuidados do neo-sacerdote P. Filipe a paróquia de Penedono.
Durante um ano, fui-me preparando espiritualmente com a Sociedade Missionária da Boa Nova. A minha ansiedade era grande e por isso levava muitas expectativas e interrogações. Cheguei a Maputo e fiquei a trabalhar com o P. Jorge Anastácio, em duas paróquias com cerca de 300 mil habitantes.
O trabalho foi intenso e apaixonante. Na área social, destacaria o apoio a nove projectos, com o dinheiro das ofertas que nos fizeram e o resultado de uma quermesse realizada na semana cultural do Centro Social Paroquial de Penedono.
Os projectos apoiados, foram na lógica do micro-crédito. Entregámos o dinheiro ao Centro Social da Missão e esta, por sua vez, acompanhará localmente os projectos, ficando as pessoas beneficiadas a pagar mensalmente duzentos meticais (6 euros), até amortizarem o empréstimo que será novamente reinvestido. Dois mil e duzentos e trinta euros deu para pagar a construção de uma casa, um aviário, colocar a luz eléctrica em duas casas, comprar duas arcas frigoríficas a duas famílias, um gerador, e também adoptar cinco crianças, pagando 10 euros mensalmente por criança, e assim permitir que elas possam frequentar a escolinha, alimentar-se, e crescerem saudáveis.
Contando esta experiência em diversas escolas e paróquias, mais 14 outras adopções já foram possíveis, havendo grande abertura para aderir a este projecto simples e credível, visto que existe uma estrutura ligada à Igreja, que no terreno acompanha estas crianças.
No plano religioso, tive a sorte de acompanhar o arcebispo de Maputo, D.Francisco Chimoio, na visita pastoral à paróquia de Mavalane, durante uma semana. Este prelado esteve preso pela Renamo, foi colocado numa cruz como Jesus para ser crucificado, mas foi depois liberto graças à pressão internacional dos meios de comunicação social.
Ao ver a acção dos missionários no terreno, um oásis no meio de tanta miséria, fiquei com mais amor à nossa Igreja de Jesus Cristo, que faz opção preferencial pelos pobres sem reivindicar louros ou qualquer outro reconhecimento. Descobri com este povo que, o Evangelho permite discernir os valores perenes de cada cultura e também aquilo que precisa de ser purificado. Na celebração duma semana Paulina, aprofundei o amor gratuito de Deus, que vai para além de todo o legalismo e utilitarismo. Por isso, só os pobres e pecadores, que se apresentavam sem méritos diante de Jesus, compreendiam esta gratuidade sem limites.
Percorri ruas e vi pessoas muito pobres, mas com um grande coração e heroicidade para tentarem sobreviver no meio de tanta miséria. A sua alegria e festa fizeram-me descobrir e valorizar a generosidade de Deus para comigo.
Regressei. E participando na assembleia do clero, ouvi com entusiasmo o nosso bispo sentindo-se responsável pela Igreja universal, convidando os sacerdotes a reflectir sobre a forma de partilhar com outras dioceses e missões o seu clero diocesano; compreendi que a obediência à Igreja, pode gerar experiências duradouras que será necessário aprofundar e descobrir, mais do que percorrer aventuras individuais e caprichosas com as nossas lindas ideais, mas com pouco sentido de comunhão eclesial.
Aprendi muito! Ao regressar, verifiquei que a paróquia de Penedono estava melhor, graças ao bom trabalho realizado pelo padre Filipe nos primeiros dias do seu sacerdócio.
Na continuidade do apelo do nosso bispo, gostava de lançar um desafio: porque não a diocese assumir uma paróquia em África, promovendo o voluntariado de tantos jovens da nossa terra e enriquecendo os sacerdotes com abertura de horizontes, contactando com outras experiências e culturas? Mais uma paroquia? Que tal…? O nosso bispo abriu a porta. Estará a nossa geração preparada para este desafio?

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