segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A despedida

“Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marionete de pano me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas em definitivo pensaria em tudo o que digo. Daria valor as coisas, não pelo que valem, mas sim pelo significam. Dormiria pouco, sonharia mais. Entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria enquanto os demais se deitam, despertaria enquanto os demais dormem. Escutaria enquanto os demais falam, e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate! Se Deus me favorecesse um pedaço de vida, me vestiria simples, me atiraria de bruços ao sol, deixando descoberto, não só meu corpo, mas também minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo, e esperaria que saísse o sol. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria a lua. Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos, e o vermelho beijo de suas pétalas... Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer as pessoas que eu amo, que as amo. Convenceria a cada mulher ou homem que são meus favoritos e viveria apaixonado de amor. Aos homens provaria quanto equivocados estão ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A um menino daria asas, mas deixaria que ele sozinho aprendesse a voar. Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escalada. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com seu pequeno punho, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem agarrado para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar o outro ate em baixo, quando há-de ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas realmente de muito não haverá de servir, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei morrendo. Sempre diz o que sentes e faz o que pensas. Se soubesse que hoje fosse a ultima vez que vou te ver dormir, te abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião de tua alma. Se soubesse que esta fosse a ultima vez que te vejo sair pela porta, te daria um abraço, um beijo e te chamaria de novo para dar-te mais. Se soubesse que esta fosse a ultima vez que ouviria tua voz, gravaria cada uma de tuas palavras para poder ouvi-las uma e outra vez indefinidamente. Se soubesse que estes são os últimos minutos que te vejo diria "amo te" e não assumiria, tontamente, que já sabes. Sempre há um amanha e a vida nos da outra oportunidade para fazer as coisas bem, mas se me equivoco e hoje e tudo o que nos resta, gostaria de dizer o quanto te amo, que nunca te esquecerei. O amanha não esta garantido a ninguém, jovem ou velho. Hoje pode ser a última vez que vejas os que amas. Por isso, não esperes mais, faz hoje, já que se o amanha nunca chegar, seguramente lamentaras o dia que não tivestes tempo para um sorriso, um abraço, um beijo e que estiveste muito ocupado para conceder-lhes um último desejo. Mantêm os que amas perto de ti, diz-lhes ao ouvido o muito que necessitas deles, ama-os e trata-os bem, encontra tempo para dizer-lhes "sinto muito", "perdoa-me", "por favor", "obrigado" e todas as palavras de amor que conheces. Ninguém te recordara por teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor a forca e sabedoria para expressa-los. Demonstra a todas as pessoas que são importantes para ti, o quanto gostas delas"
Gabriel Garcia Marquez

1 comentário:

Anónimo disse...

Já conhecia este texto, mas nunca me canso de o ler outra e outra vez... Lindo... :)